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domingo, 16 de junho de 2013

Entrevista Rolling Stone - Bob Dylan

por MIKAL GILMORE | TRADUÇÃO: ANA BAN
"Estou tentando explicar algo que não pode ser explicado”, diz Bob Dylan. “Preciso da sua ajuda.” Estamos em um dia do alto verão, mais ou menos uma hora antes de anoitecer, acomodados em uma mesa de um pátio sombreado, nos fundos de um restaurante em Santa Monica. As roupas de Dylan são mais quentes do que a Califórnia pede, com uma jaqueta de couro fechada por cima de uma camiseta branca grossa. Também usa um gorro de esqui puxado por cima das orelhas e bem baixo na testa. Uma franja de cabelo desgrenhado loiro meio avermelhado, obviamente uma peruca, sai em cachinhos pela frente do gorro, por cima das sobrancelhas dele. Há um copo de água gelada na frente dele.
Nos 15 anos que se passaram desde o álbum Time Out of Mind, de 1997, Dylan – ele hoje está com 71 anos – viveu o período de maior criatividade contínua de sua vida. O novo álbum, Tempest, conta histórias de fins mortais, ausência de fé moral e graça conquistada a duras penas (ainda que arbitrária), que culmina em um épico rodopiante de 14 minutos a respeito do Titanic, misturando fato e fantasia, seguido por uma música adorável e mística a respeito do amigo já morto John Lennon.
É improvável, no entanto, que Dylan algum dia vá eclipsar a fama de sua explosão de música e estilo na década de 1960, que o transformou em força mítica definitiva daquele tempo. Mas houve momentos em que Dylan não se sentiu à vontade com os efeitos dessa reputação. Em 1966, depois de uma série de performances eletrizantes, estonteantes e controversas, o jovem herói se retirou de seu próprio auge quando foi forçado a pegar leve por um acidente de motocicleta em Woodstock. Os trabalhos que marcaram seu retorno no final da década de 60 – John Wesley Harding e Nashville Skyline – davam a impressão de que Dylan tinha se tornado outro homem. Na verdade, hoje ele diz que ele era isso mesmo – ou melhor, era nisso que estava se transformando. A crença de Bob Dylan em relação ao que aconteceu depois de sobreviver a esse ponto de mutação radical é algo muito mais transformador do que ele jamais revelou. Ele tratou do acorrido de maneira superficial em sua autobiografia de 2004, Crônicas, Volume 1, mas, nesta entrevista, a questão assumiu implicações mais profundas.
Em certos momentos, eu forcei algumas perguntas e Dylan devolveu na base da força. Demos prosseguimento à conversa ao longo de vários dias seguintes, por telefone e por meio de algumas respostas escritas. Dylan não se cerceou nem tentou se proteger à medida que avançávamos. Foi bem o contrário: ele se abriu sem pestanejar, sem se desculpar. Este é Bob Dylan como você nunca viu antes.
Você considera Tempest um álbum tão relevante quanto Time Out of Mind ou Love and Theft? 
Tempest foi igual a todos os outros: as músicas simplesmente combinaram. Mas não é o álbum que eu queria fazer. Eu tinha outro em mente. Queria fazer algo mais religioso. Exige muito mais concentração – para conseguir fazer isso dez vezes com o mesmo fio – do que um álbum como o que eu acabei produzindo, em que vale tudo e você simplesmente precisa acreditar que vai fazer sentido.
Ainda assim, parece estar entre as suas maiores obras, como Time Out of Mind, apesar de ser mais voltado para fora, menos voltado para dentro. 
Bom... o álbum Time Out of Mind foi o início da minha fase de fazer álbuns para o público que me assistia noite após noite. Era gente diferente, com trajetória de vida diferente, ambientes e idades diferentes. Não havia motivo para essas pessoas novas ficarem escutando canções que eu tinha composto 30 anos antes, por motivos diferentes. Se eu quisesse prosseguir, precisava de novas canções, e precisava compô-las, não necessariamente para fazer álbuns, mas para tocar para o público.
As canções de Time Out of Mind não foram feitas para escutar em casa. A maior parte das canções funciona; já antes, talvez os discos fossem melhores, mas as canções não funcionam. Então, vou me ater ao que fiz depois de Time Out of Mind em vez do que fiz nas décadas de 70 e 80, em que as músicas simplesmente não funcionam.

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